Sitio do Joaninha: entre o lixo e a discórdia

Sob risco constante de deslizamentos e explosões, moradores do “Morro do Bumba do ABC” convivem com o medo, promessas e cobras



Ladeiras íngremes de terra esburacada, cercadas por mata, barracos e destroços do que já foram humildes casas de tijolo e barro. E o cheiro de lixo que parece perseguir os passos de quem passa ou de quem vive lá. Esse é o Sítio Joaninha, um morro na divisa entre São Bernardo do Campo e Diadema, na Estrada do Alvarenga. São aproximadamente 5 mil pessoas vivendo numa área invadida, onde antigamente ocupava um lixão desativado há 29 anos. Estima-se que existam hoje pelo menos 2 mil barracos à beira do aterro, ou em cima dele.

Após a catástrofe ocorrida com as chuvas do começo do ano em Niterói, Rio de Janeiro, a comunidade foi apelidada de “Morro do Bumba do ABC”, devido ao risco iminente de deslizamentos a cada chuva que cai no local. O medo dos moradores é constante. Não só pelas torrentes de água, mas também pelas explosões. Não, o lugar não possui um campo minado.

A vegetação tratou de cobrir boa parte dos detritos, mas o gás metano resultante da decomposição tornou diário o risco de explosões. “O barraco que eu morava pegou fogo no último deslizamento, em janeiro. Perdemos tudo. As prefeituras sempre aparecem, prometem que vão fazer algo, e nada. É muita falta de respeito”, desabafa Edney Reis de Souza, 21 anos, morador há 8 anos do Joaninha.

Em cada chuva, deslizamentos, pânico, e surpresas indesejáveis. “Sempre aparece aranha e cobra nas casas. Um dia acordei com uma coral no meu braço”, relata. Assim os moradores vão seguindo, sem saber até quando terão onde viver.



Desculpas & promessas

A assessoria de imprensa de São Bernardo afirma que está tomando medidas para sanar os problemas no lixão. Já estariam cadastradas 226 famílias, e oito foram retiradas para moradias alugadas com apoio financeiro do programa Renda Abrigo, do município - cerca de R$ 380.


Entre as ações previstas, um projeto que pretende criar barreiras para a contenção do chorume, tratamento das fontes de lençol freático e aproveitar os gases metano. Após a recuperação do local, o plano é aproveitar a área para o plantio de árvores ou até a criação de um parque.

Ainda segundo a Prefeitura, esse projeto está no momento sendo atualizado à pedido do Ministério Público e faz parte do Plano de Resíduos Sólidos, que está em fase de elaboração e deverá ser apresentado por volta de agosto.




Já para a Prefeitura de Diadema, há equívocos nas informações relatadas pela imprensa. A área do Joaninha que faz parte do município seria de 225 mil m², onde moram 459 famílias e não 5.000 pessoas como foi divulgado. Destas moradias, 17 estariam instaladas na área limite do antigo depósito de lixo.

A Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano do município afirma que já definiu uma série de intervenções no local e em mais duas áreas que deverão utilizar recursos do PAC Mananciais, oriundo do governo federal, na ordem de R$ 42 milhões. O projeto prevê obras de urbanização, instalação de redes de coleta de esgoto, drenagem e abastecimento de água, obras de estabilização geotécnica, remoção de áreas de risco e de proteção permanente, além da criação de habitações.

O órgão diademense ainda afirma que a primeira etapa da obra já foi licitada, mas ainda está em fase de revisão. Cerca de 2,4 mil famílias devem ser beneficiadas.

As duas prefeituras afirmam que estão preparando um plano de ações conjuntas junto ao Poder Judiciário. Mas ainda realizam um diagnóstico da área, com sondagens, a fim de verificar a situação química do solo para só então terem uma proposta definitiva de recuperação ambiental.


Ou seja:
Há pelo menos oito anos - ou dois mandatos em cada prefeitura - que os moradores pedem por soluções aos problemas, tentando dialogar com os secretários responsáveis ou prefeitos.

Esta matéria foi feita em maio de 2010, e até agora nenhuma medida foi tomada, por nenhum dos governos municipais citados.

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